Juliana Terra, Fernanda Sakano, Danilo Terra e Pedro Tuma não são típicos arquitetos paulistanos. Ao menos, não na medida que o reconhecimento do escritório que lideram — Terra e Tuma Arquitetos Associados — poderia sugerir. Rejeitando a figura do gênio e dispensando a do empresário, o quarteto conduz a firma como artífices que trabalham o objeto. "Nós nos entendemos como um escritório de ofício", diz Danilo, que explica o processo de projeto como um refazer contínuo, livre de hierarquia, que envolve quatro cabeças e oito mãos.
A ausência de outras pessoas coloca a totalidade das decisões projetuais (e demais afazeres cotidianos de um escritório) nas mãos dos sócios. Do primeiro croqui na lousa ao último bloco assentado em obra, o grupo trabalha coletivamente com a feitura da arquitetura — "hoje, temos certeza que sozinhos seríamos piores", comenta Pedro sobre as discussões e a contínua tarefa de refazer os traços a partir de referências externas e de um repertório próprio consolidado ao longo dos anos.
Conhecidos por suas residências urbanas construídas em lotes estreitos e compridos, comuns na malha urbana paulistana, o tipo de encomenda sinaliza uma clientela específica, que não costuma frequentar salas de reuniões em escritórios de arquitetura. A sólida produção do Terra e Tuma prova, contudo, que o caminho mais prolífico para a criatividade não é a ausência de limitações, mas, ao contrario, a constância delas. Glebas pequenas e orçamento reduzido são apenas mais alguns dos fatores que influenciam esta prática pragmática que busca — e consegue! — responder com qualidade (espacial e humana) a demandas desafiadoras.
Com pouca margem de manobra, as decisões devem ser precisas. Sem medo de repetir aquilo que, pela experiência, já se provou certo, os arquitetos constantemente revisitam materiais e soluções programáticas, como o bloco de concreto, a laje painel e a divisão espacial interna em fatias transversais ao sentido do lote. "O grande avanço foi a gente se sentir livre para repetir o quanto precisar, se for pertinente", diz Juliana sobre a reincidência dessas soluções.
A identidade que se reconhece na obra construída do escritório é resultado de decisões pragmáticas e "a materialidade é decorrência dessa espacialidade" buscada em cada projeto, diz Fernanda. Os materiais não são escolhidos a priori visando uma estética específica; ao contrário, são definidos a partir dos ambientes que se desenham coletivamente e, pela repetição de demandas e similaridade de contextos, resultam numa estética informada pelo pragmatismo e pela economia de recursos.
Exemplo disso são as soluções similares encontradas na Casa Vila Matilde, Casa Maracanã, Casa + Estúdio, Casa Guaianaz e Casa Mibipu. Além da sensibilidade em relação a cada encomenda e contexto específicos – que resulta necessariamente em adaptação do repertório –, fica evidente, também, o refinamento da técnica. "Me lembrei do Tom Zé quando ele diz que, na verdade, não é um bom músico, por isso que ele faz tanto e tanto e, no fim, acaba ficando bom. A gente é um pouco assim: não há inspiração, não há talento, a gente senta e desenha até resolver", confessa Pedro. Como o rebolo que, de girar, afia o instrumento, o artífice, de tanto refazer a mesma coisa, chega enfim ao domínio da técnica para produzir o objeto com perfeição.